John Deere aposta na experiência para competir com rivais em agricultura de precisão

A experiência centenária no desenvolvimento de máquinas agrícolas é a aposta da gigante norte-americana John Deere para garantir seu espaço no cada vez mais disputado mercado de agricultura de precisão e softwares para fazendas, para onde têm se voltado empresas do setor de agroquímicos e sementes, como Monsanto, Basf, Bayer e Syngenta.

A coleta e análise de dados de plantio e colheita, o uso de aplicativos, telemetria, piloto automático, satélites e informações armazenadas na nuvem têm ganhado crescente atenção dos grandes players do mercado de insumos agrícolas, tentando capturar investimentos de agricultores cada vez mais interessados em ganhos de eficiência.

"O crescimento em máquinas maiores e mais rápidas não é infinito. Mas existe muita oportunidade em ganhos de eficiência", disse o presidente da John Deere no Brasil, Paulo Herrmann, ao inaugurar na quinta-feira em Campinas (SP) um centro que vai concentrar pesquisas em novas tecnologias da empresa.

A unidade, com mais de cem pesquisadores, ajudará a adaptar tecnologias digitais desenvolvidas pela matriz, nos Estados Unidos, à realidade dos agricultores brasileiros. E, em todos os novos produtos, a ideia é encontrar um nicho diferente do oferecido pelas novas concorrentes.

"A razão pela qual acreditamos que vamos conseguir manter liderança neste setor é que empresas de sementes ou pesticidas estão trabalhando no apoio às decisões agronômicas. Mas nosso foco é na otimização das máquinas e da operação. Queremos manter a fatia que diz respeito à solução tecnológica para colocar sensores nas máquinas, extrair esses dados e jogá-los em um centro operacional e na nuvem", disse o presidente global da John Deere, Sam Allen.

"Essas outras empresas irão obter valor na tomada de decisões agronômicas... Não iremos atuar naquele espaço."

Apesar dessa disputa de mercado, que deverá se acirrar nos próximos anos, a ideia de criar plataformas fechadas, que não "conversam" com sistemas de outras empresas, está descartada.


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"Não queremos ser exclusivos, embora a gente ache que ‘verde sobre verde’ (produtos John Deere combinados a outros produtos John Deere) seja mais eficiente", disse Allen, referindo-se à cor característica dos tratores e colheitadeiras vendidos pela companhia, fundada em 1837.

O executivo ressaltou que informações geradas pelas máquinas e que sejam armazenadas em computadores e na internet "serão de propriedade do agricultor", que poderá sempre escolher seus fornecedores para análises, gerenciamento, sementes e insumos, por exemplo.

Ele disse que a John Deere já trabalha com Syngenta, Monsanto, Bayer, Basf e Pioneer para garantir a comunicação entre seus sistemas.

Embora a pesquisa em agricultura de precisão dentro da John Deere tenha começado há mais tempo nos Estados Unidos, por volta de 2013, Allen espera que o Brasil vá superar os EUA em sofisticação e adoção desse tipo de tecnologias dentro de três a quatro anos.

Há dois grandes desafios para serem superados no país e garantir uma maior adoção de sistemas mais modernos no campo: o menor grau de instrução da mão-de-obra e as más condições de conexão com internet nas fazendas.

Os executivos disseram que a primeira parte do problema é enfrentada com o treinamento dos revendedores, que atuam com agricultores e operadores de máquinas.

"Revendedores precisam ter certificação em agricultura de precisão, em vários níveis. Só quando eles recebem um determinado certificado podem vender máquinas com um certo nível de tecnologia", disse Herrmann.

Já a questão da conectividade, com uma rede de torres de celular concentrada nas áreas urbanas, deverá receber uma solução com um produto a ser lançado pela empresa ainda este ano.

"Essa solução já está avançada, até o fim do ano, deste centro, sai a nossa resposta para o tema", disse Allen.